CORRELAÇÕES
ENTRE SOFISMA, MANEQUÍSMO E O MATERIALISMO DIALÉTICO
Segundo Japiassu&Marcondes(2001) sofisma vem a ser o raciocínio
que possui aparentemente a forma de um silogismo - método de dedução de uma
conclusão a partir de duas premissas, por implicação lógica - sem que o seja,
sendo usado assim de modo a produzir a ilusão de validade, e tendo como
conclusão um paradoxo ou um impasse. Ex.: Este cão é meu, este cão é pai: logo,
este cão é meu pai. Segundo Platão e Aristóteles, os sofistas usavam esse tipo
de raciocínio para provocar a perplexidade em seus interlocutores ou para
persuadi-los. Aristóteles, em seu tratado Refutações sofisticas, analisa os
vários tipos de sofismas de modo a revelá-los como falaciosos. Nesse sentido falácia
(do lat. ja/tcrr: enganoso) é considerado como argumento envolvendo uma forma
não-válida de raciocínio. Argumento errôneo, que possui a aparência de válido,
podendo isso levar à sua aceitação.
O maniqueísmo (do lat. tardio manichaeus, do gr. tardio manichaèos, de
Manichaios: Maniqueu, do persa Manes, o fundador da seita) é considerada como doutrina
criada por Manes (século III), que se difundiu pelo Império Romano e pelo
Ocidente cristão, florescendo nesse período. Combina elementos do zoroastrismo,
antiga religião persa, e de outras religiões orientais, além do próprio
cristianismo. Mantém urna visão dualista radical, segundo a qual encontram-se
no mundo as forças do *bem ou da luz, e do *mal, ou da escuridão, consideradas
princípios absolutos, em permanente e eterno confronto. O maniqueísmo teve
grande influência nos primórdios do cristianismo, sendo combatido por santo
Agostinho, que inicialmente o havia adotado. (JAPIASSU&MARCONDES, 2001)
Em um sentido genérico, "visão maniqueísta" é aquela que
reduz a consideração de uma realidade a uma oposição simplista entre algo que
representaria o bem e algo que representaria o mal.
De maneira que o bem seria tudo o que possui um *valor moral ou físico
positivo, constituindo o objeto ou o fim da ação humana. Para Aristóteles, o
bem é "aquilo a que todos os seres aspiram"; "O bem é desejável
quando ele interessa a um indivíduo isolado; mas seu caráter é mais belo e mais
divino quando se aplica a um povo e a Estados inteiros. O Soberano Bem é
identificado com Deus: "O Soberano Bem do espírito é o conhecimento de
Deus, e a soberana virtude do espírito é a de conhecer Deus" (Espinosa).
Assim, o Soberano Bem é o ponto culminante das morais da perfeição.
Logo, o mal, Em um sentido geral, tudo que é negativo, nocivo ou
prejudicial a alguém. "Podemos considerar o mal em um sentido metafísico,
físico ou moral. O mal metafísico consiste na simples imperfeição, o mal físico
no sofrimento. e o mal moral no pecado" (Leibniz). Por um lado, temos o
mal como privação, falta, ausência, identificando-se com o não-ser, como algo
que não existe em um sentido absoluto, mas apenas como imperfeição, uma
limitação de um ser. Assim, a ignorância seria um mal. a imprudência seria um
mal etc. (JAPIASSU&MARCONDES, 2001)
Nesse sentido, se fôssemos perfeitos, seríamos Deus, e não mais
haveria criação. Toda criatura é menos perfeita que seu criador, somente Deus é
incriado. Mas por que o bom Deus permitiu que ficássemos submeti-dos ao
sofrimento e ao pecado? A resposta do cristianismo é que o mal é uma provação
cuja recompensa será infinita no paraíso. *Kant faz uma distinção entre a
"maldade" que reside no ato de se fazer o mal acidentalmente, e a
"malignidade diabólica", que procede da vontade de se fazer o mal
pelo mal, e concebe a má ação como o resultado de uma escolha deliberada.
A se tratar de maniqueísmo associa-se também a religião que em seu
sentido geral e sociocultural, a religião é um conjunto cultural suscetível de
articular todo um sistema de crenças em Deus ou num sobrenatural e um código de
gestos, de práticas e de celebrações rituais. Toda religião acredita possuir a
verdade sobre as questões fundamentais do homem, mas apoiando-se sempre numa fé
ou crença. Sendo assim, ela se distingue da filosofia, pois esta pretende
fundar suas "verdades" ou tudo o que diz nas demonstrações racionais.
(JAPIASSU&MARCONDES, 2001)
Sobre o materialismo Na filosofia clássica (sobretudo no *atomismo,
*epicurismo e *estoicismo), doutrina que reduz toda a realidade à *matéria,
embora o próprio conceito de matéria possa variar bastante, bem como variam as
respostas às muitas dificuldades geradas por esta concepção. De modo geral,
portanto, o materialismo nega a existência da alma ou da substância pensante
cartesiana, bem como a realidade de um mundo espiritual ou divino cuja
existência seria independente do mundo material. O próprio pensamento teria uma
origem material, como mm produto dos processos de funcionamento do cérebro. (JAPIASSU&MARCONDES,
2001)
A respeito da dialética Marx faz da dela um método. Insiste na
necessidade de considerarmos a realidade socioeconômica de determinada época
como um todo articulado, atravessado por contradições específicas, entre as
quais a da luta de classes. A partir dele, mas graças sobretudo à contribuição
de Engels, a dialética se converte no método do materialismo e no processo do
movimento histórico que considera a Natureza: a) como um estado de mudança e de
movimento: b) como um todo coerente em que os fenômenos se condicionam
reciprocamente; c) como a sede das
contradições internas seus fenômenos tendo um lado positivo e o outro negativo,
um passado e um futuro. O que provoca a luta das tendências contrárias que gera
o progresso (Marx-Engels): d) como o lugar onde o processo de crescimento das
mudanças quantitativas gera por acumulação e por saltos, mutações de ordem
qualitativa. (JAPIASSU&MARCONDES, 2001)
Destas
considerações de Engels sobre a Natureza se formula quatro leis:
Primeira lei: A mudança dialética que começa por contatar que nada fica onde está nada permanece o que é. Nisto, se observa o movimento dialético e a consideração de que não existe nada de definitivo. Ou seja, há o autodinamismo.
Segunda lei: A ação recíproca, que por meio do encadeamento de processos nos conduz a estudos minuciosos e completos. Temos assim, um encadeamento de processos, que nos demonstra que tudo influi sobre tudo. Nesse sentido, ocorre-se o desenvolvimento Histórico ou em espiral afirmando que o mundo, a natureza a sociedade constituem um desenvolvimento que é histórico, e, em linguagem filosófica, se chama desenvolvimento em espiral.
É a missão em particular do materialismo dialético – reunir todas as descobertas particulares de cada ciência, para fazer a síntese, e dar assim, uma teoria que nos torne cada vez mais, como dizia Descartes, mestres e possuidores da natureza.
Terceira lei: A contradição onde as coisas se transformam na sua contraria, pois a dialética nos ensina que as coisas não são eternas: tem um começo meio e fim, a morte.
Toda coisa é ao mesmo tempo, ela própria e sua contraria. Assim no interior de cada coisa existem forças opostas, e estas lutam. Uma coisa é movida por forças que se chocam, pois estas estão em direções opostas. Neste processo tem-se a afirmação – chamada também Tese, negação – ou Antítese, negação da negação – ou Síntese. Onde uma coisa começa por ser uma afirmação que sai de uma negação e a destruição é uma negação. Isto se dá pelo fato de haver a unidade das contrarias, ou seja, uma coisa não só se transforma na sua contraria, ela é ao mesmo tempo ela própria e sua contraria.
Quarta lei: Transformação da qualidade e quantidade ou lei do progresso por saltos a qual afirma que quando uma coisa não muda de natureza, temos uma mudança quantitativa (no exemplo da água, uma mudança de grau de calor, mas não de qualidade). Muda-se a natureza, quando se torna outra coisa, a mudança é qualitativa.
Contudo, pode se considerar que o sofisma, em sua maneira de emitir falácias com fim de consolidar uma suposta verdade, possui tênue fronteira com a doutrina do maniqueísmo, a qual em seu esforço em reduzir o mundo entre o bem e o mal, pode por vezes utilizar-se de sofismas para realizar-se. Com mesmo fim, a verdade, mas com um viés mais filosófico-ciêntífico, o materialismo dialético em sua complexidade de investigação tenta, de certo modo, contrariar ou desacreditar os sofismas e maniqueísmo existentes e consolidados como verdades absolutas.
Michel Sampaio Ferreira
REFERENCIAS
http://culturareligare.wordpress.com/leis-da-dialetica/
http://meuladoexistencial.blogspot.com.br
JAPIASSÚ,
Hilton. MARCONDES, Danilo. Dicionário
básico de filosofia. 3ª edição revista e ampliada. Jorge Zahar Editora. Rio
de Janeiro, 2001. Digitalizado por TupyKurumin.
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